Série: A morte de Fontoura (Maíra Sampaio)


A busca, na minha incompreensão, os motivos da indiferença que permeia a sociedade. Nos quadros e nos poemas busco, de forma contundente, refletir no momento em que o «homem tornou-se lobo do próprio homem»; porém dentro de mim não desisto e ainda acredito na essência da irmandade entre todos, e essa esperança também reflete nos meus trabalhos. A série ‘A Morte de Fontoura’ é esse momento em que o homem é morto pela indiferença, mas ainda assim existe quem fez a diferença e lutou por um mundo melhor. E esses pequenos heróis do cotidiano são homenageados através da figura de Fontoura.


Quem é Fontoura? Quem foi? Do que morreu? Quem chorou pela sua morte? Ninguém?
Fontoura, personagem de Antônio Callado, no livro Quarup publicado em 1967, é um trabalhador do governo no Xingu, tinha um ideal de preservação da cultura indígena.
Personagem citado, porem secundário, quase sem importância. Qual foi o motivo de sua morte? A bebedeira constante pra fugir de uma sociedade ou pela indiferença da sociedade?
Hoje, o debate sobre a construção da usina em Belo Monte é permeado da morte do Fontoura.

A série é composta por 4 pinturas e 2 dois poemas

Aninhado no seu ventre,
 Fontoura como se tivesse acabado de nascer dela. 
Só que estava morto (Antônio Callado)

Estrangulou-me a garganta
a morte tua
Límpida
Serena
Cansada
Fontoura dos inglórios,
dos índios passados e
atados no chão.
Cruz e mastro
coração de uma terra injusta.

Encosta teu ouvido,
                Sente
                Ouve...
Seu próprio coração a clamar
Perdidas, idas
                               Guerras
Sonhadas
Relatadas de um ser não-a-vir-a-ser

Feto-homem
A terra te engole
Grata
                In-grata
Terra: seu coração

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Morto!
Escuro silêncio
                na última embriaguez.

Dorme!
      que o tempo, ingrato,
      não trará,
      nem a largo,
      a revolução.

Dorme!
      que índios
                veremos
      queimados nas ruas
      matados pelos dias.

Dorme!
      mistura teu sangue
      nas auroras
      dos tempos não-vindos.
Teu pó como pó desta terra.
      Esperança
          que não gera.

Dorme!
                Profundo...
Fundo sonho.
Sonho do não-vir


Fontoura Morto, 2011






A morte como presença, 2011


Esta lá um corpo estendido no chão, 2011




O chão que olho, 2011



































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