sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mais poema para Fontoura

Morto!
Escuro silêncio
                na última embriaguez.

Dorme!
      que o tempo, ingrato,
      não trará,
      nem a largo,
      a revolução.

Dorme!
      que índios
                veremos
      queimados nas ruas
      matados pelos dias.

Dorme!
      mistura teu sangue
      nas auroras
      dos tempos não-vindos.
Teu pó como pó desta terra.
      Esperança
          que não gera.

Dorme!
                Profundo...
Fundo sonho.
Sonho do não-vir

Maíra
29/01/2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um poema e uma consideração

Depois desses dias difíceis com a internet volto a postar.
O último temporal queimou e deixou problemas pelo bairro, estamos a voltar ao normal.

Sobre o poema.
Não coloquei nenhuma explicação sobre os poemas postados anteriormente e nem pretendo tornar (ou fazer) regra sobre isso.
Esse poema nasce do estranhamento que senti ao me ver perturbada pela morte do Fontoura (personagem do livro Quarup). Fiz o poema pra ele para esse personagem. Fontoura significou naquele momento que lia sobre sua morte tantos outros homens e mulheres que viveram de sonhos, de angustias.... ao morrerem  deixam suas marcas nas entrelinhas das histórias mal contadas....

O poema: (Segundo poema dedicado ao Fontoura, personagem do livro Quarup)

Aninhado no seu ventre, Fontoura como se tivesse acabado de nascer dela. Só que estava morto (Antônio Callado)
Estrangulou-me a garganta
a morte tua
Límpida
Serena
Cansada
Fontoura dos inglórios,
dos índios passados e
atados no chão.
Cruz e mastro
coração de uma terra injusta.

Encosta teu ouvido,
                Sente
                Ouve...
Seu próprio coração a clamar
Perdidas, idas
                               Guerras
Sonhadas
Relatadas de um ser não-a-vir-a-ser

Feto-homem
A terra te engole
Grata
                In-grata
Terra: seu coração

Maíra
28/01/2011
O choro pela tua noite

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Adeus

Puedo escribir los versos más tristes esta noche (Pablo Neruda)
Adeus. Assim pequeno
assim, leve... rápido
frágil - assim essa voz, esse canto.
Adeus!
Num suspiro, sussurro, sai entre os lábios
Ah... esses lábios, nunca meus, minha boca
pertenceu um dia.
Adeus. Adeus! Adeus!
Que noite. E essa voz tão em mim!
essa voz que meus ouvidos amam!
esses lábios que minha boca se enamora
Ah... essa música nunca falada, esse canto
não esquecido...
Adeus - assim no olhar
assim em prosa, em conto
assim desse jeito
sem jeito.
Adeus é assim sem mistério,
não faz de conta
não é etéreo.
Adeus é assim!
Essa voz foi frágil, suave,
mas o adeus é assim,
seco, duro. Malvado!

Idos de 2003/2004
VI Antologia Nau Literária, 2004 ed. Komedi
Maíra

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um devaneio...

Penso em te esperar... corro os olhos pelo telefone - horas, números, seu nome - sem força deito-o sobre a escrivaninha e leio mais um pouco. Turvas leituras de um mundo em caos. Procuro Levindo nos sonhos de outrora. Morto a bala. Morto! Francisca, ontem dele e hoje de Nando, ainda chora. Morto a bala!
Mas ainda assim, não foi o único.
Em pânico a população desce a rua, desce do ônibus... e  os índios (ah meu saudoso Fontoura) ressurgiram dos rios e das matas de um sonho encantado... nas telas da TV em um corpo esquizofrênico. Fontoura não morreu a bala. Morreu da indiferença alheia!
E se os índios tivessem invadido o Rio com seus arcos e flechas? E se Diadorim soubesse dessas histórias todas?? Diadorim também é morta...
Parece que todos, que poderiam ter sido, estão agora mortos... A bala, a facada... indiferença. Mortos!
E mesmo se as horas parassem? E você não chega. Gonzaguinha, que também já morto, canta no som antigo, baixo paras as crianças não acordarem.
E nessa esquizofrenia toda, o Egito em fogo, o repórter na TV, a saudade de você. Morto?
Não, apenas uma história sem início, sem fim. Eu sobre a cama vazia de você remendo sonhos, devaneios e realidade...

Fragmentos 2

Fragmentos são pedaços de ideias, de versos, de imagens que ficaram... não há nenhum motivo para não ter trabalho esses pedaço....

1)
Descubro nos traços
as rimas que perdi
Descubro nos abraços
o amor que fingi.

2)
Caminhos não andei..
Mundo que inventei.
Ah, Guimarães
Rosas de minhas alegrias
e tristezas
Descubro os rios que
em seus bolsos...

3)
Eles vêm
de branco com velas
para nos descobrir

Vêm... com segredos
espelhos

4)
Ficarei sem teus poemas
arrasados
silêncio de púrpura

Eu que não vejo o sol
Eu que não sei da lua

e não olho as pernas
da moça que passa
por essas esquinas...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um pouco menos presos...

Em verdade não pensei no que escrever sobre a saída do Mubarak.

Por motivo médico hoje eu assistia vídeo show (esperava minha mãe que foi ao médico), e deixo aqui uma repugnância por esse programa..., até que teve uma chamada do plantão da Globo. Pensei: Ou o José Alencar morreu ou o Egito explodiu... e anunciaram a renuncia do Mubarak.
Comemorei... não com gritos e uma explosão de alegria (nem é de minha personalidade esses movimentos assim de forma brusca). E ao olhar as pessoas ali pensei: será que sentem esse mesmo sentimento que tenho?... Agora estamos um pouco menos presos... A população quando vai pra rua fica menos presa... Ouso até dizer: Mais livre...

É isso.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Fragmentos

Não é o poema q tem esse nome, mas achei aqui em casa em papéis diversos partes de alguma coisa (nem poesia, nem versos... não sei qual seria o nome) e resolvi colocar aqui no blog.

1)
Lá fora o dia fluía
Aqui apenas eu...

2)
Sem paixão ou ânsia,
                        sem espírito
Entre um lírio e outro
o ar que passa
– sem metafísica –
Não há saudades
                         num peito ignominioso.

3)
O que respiro: restos
Papel amassado
Perfume deixado

4)
Terno abraço
            no braço amigo.
Querido abraço
            de braço elísio.

5)
Aflito
Perdido
Amor antigo
Escorre, corre
                        Transparente
Despedaça meus mundos
Entre o espelho ao tolo – morre em segundos.

Sem data (e nem sei se foram feitos em datas próximas)
Maíra

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sem título

Perco-me na imensidão dos seus olhos...
Olhos flor-de-maracujá!
Ambígua é sua fala
Sou só...
E com os rios todos
E os buritis
que Rosa plantou em mim

Feita de matéria inerte
Inércia de amor sem imenso

Meus olhos lacrimejam num duvidoso despertar
Em um ir de não-ir

Sou só...
Como Aninha, a feia da ponte da Lapa

Tudo me bebe me come
extermínio de um corpo sem dono

Mas não sou nem Raimundo e nem Ana,
e nem Rosa escreveu para mim.

Sem data
Maíra

Frases soltas...

Espero seus versos
Conduzo o amor de forma lenta,
Assim a palavra esquenta
Meus ossos

Faço versos com destroços

Pedaços de acaso perdido
Ido sem adeus
deus de um displicente sonhar
olhar que não se deu

Beijos amorosos

Murmúrio (poema-protesto)

Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra cansado de tanta guerra crescido de coração (Guimarães Rosa)

Meu choro de
estanho com chumbo

Desgraça via
calçada, calcada
                cal e sangue...

Morena, samba
       Cartola
                Rosas
Jacob e seus bandolins...
Choram!

                O morro não tem vez

Marias
Josés
João
Atadas mãos
Fogo...
Pés no chão

Meninos,
Bandidos!
Sonhos...

Quando derem vez ao morro

Tapioca
Feijoada
Cachaça

Tiros
Sol
Sombra
Po-lí-cia
                Corre-corre

Criança se assombra
Criança morta na esquina

                Toda cidade vai cantar

Matar
                Velho, senhora
Aurora... perdida
Traficante.

Amores.
Dores
Amantes...

O morro não tem vez...
Não tem vez no morro...
Vez do morro...
Morro da vez...
Voz no morro...
Morro no morro...
Morte no morro...


(Uma pequena homenagem aos mortos inocentes do Rio de Janeiro e desse Brasil a fora, uma homenagem ao Higino Marcolino da Silva Neto, meu primo.)

Sem data
Maíra

Sem título

Guardo em ti meu
desassossego
livro não lido
esquecido
sobre a estante...

Amo?
assim como saudades de
quem não conheço.

Faço versos
e você se embriaga nas ilusões
tuas

 Perdido e ido
Livro das minhas amarguras

Maíra
sem data

Sem título

Com as horas fugidias
Minha vida se dissolve
Nas ruas desse vai-vem...

...meus passos desencontram a saída, e

becos, escombros,
passado-futuro.

                               Uma vida não vivida!

As horas fugidias
dias que não virão.

Amo?
Não, perplexa quieto para as horas não passar
Inútil!
Água que foge...

Um tudo-nada
Escapa do nosso ver.

Uma lembrança,
Uma carta
Uma culpa!

Uma espera...

Maíra
03-10-2010

Sempre precisamos de um inicio

Estive a um tempo nesse projeto de fazer um site com os poemas, versos ou seja la o que for que tenho tentado escrever nesses anos (não muitos) de minha vida. Mas o site não saiu do papel... ou mesmo da ideia. Mas ai ao repensar nesse projeto percebi que o uso do blog seria mais fácil para essa tarefa de publicar os versos...

Deve ser isso por hora que tenho em mente pra escrever...